sexta-feira, 30 de julho de 2010

O pôr do Sol

Olhei para o céu, estava nublado. Percebi que o sol se esforçava para mostrar seu lindo adeus. Quanto mais ele se pôs, mais dava lugar a nuvens escuras e carregadas. O vento soprava forte, anunciava que a chuva estava a caminho. A luz ameaçou apagar.
Muita gente corria para suas casas. Estavam encolhidas tentando se aquecer, as mulheres seguravam seus cabelos, e as crianças gritavam de medo.
Peguei o jornal. Estava aberto na página de novelas, li o que estava a acontecer em uma delas. Analisei que a televisão hoje em dia está ensinando cada vez mais coisas piores. Adultério, mentira, desobediência, roubo, drogas, suicídio... Terrores. Onde o mundo está parando?
Alguém bateu palmas, esperava que uma pessoa estivesse em casa. Atendi, é uma mulher com uma criança no colo ensangüentada e encharcada, dizia que ela caiu ao correr da chuva sem sucesso. Pedi para que elas entrassem, chamei a minha mulher, que pegou a sua maleta de primeiros socorros e limpou a perna da criança, retirando todo o sangue, e lhe ofereceu um chocolate quente.
Procurou roupas secas, toalhas e deu para a mulher, que recolheu da bolsa um vestido rosa para a criança, que devia ter uns quatro anos.
Minha esposa lhes ofereceu um banho quente. E perguntou onde elas moravam. Ficava a dez quarteirões daqui, nosso carro estava no conserto, não podíamos levá-las em casa e nem deixá-las ir na chuva.
Não me importei ao perceber a bondade de minha companheira ao falar-lhes para dormir aqui. Aliás, mulheres desconfiam muito de gente estranha em sua casa.
Depois que todos já estavam acomodados, fomos jantar, percebi a educação da menina ao se sentar, e esperar todos começarem a comer, e comia educadamente, quieta, em seu lugar. Agradeceu, disse que estava muito gostoso, pediu licença e saiu da mesa para lavar a mão e escovar os dentes. Muito bonito para crianças de sua idade.
Após terminarmos, fomos assistir televisão, a menininha sentou quietinha e ao chegar perto dela, ela me perguntou se eu queria sentar naquele lugar. Disse que não era necessário, e olhei para aqueles pequenos olhinhos brilhantes que me encaravam como uma súplica por ajuda. Ainda não entendia o porque.
Fomos dormir, a menininha veio até a minha esposa e eu, e nos deu um pequeno beijo, meigo e simples, mas marcante em minha memória. Lembrei do jornal, percebi que mesmo que tudo possa ensinar o mal, ainda existiam pessoas que não se deixavam ser influenciadas pelos outros.
No outro dia peguei o meu carro no mecânico, e fui levá-las em casa com a minha mulher. Elas moravam em uma casinha pobre, não era pintada e parecia bem apertada.
Perguntei no ouvido da menina se elas moravam sozinhas. Ela me respondeu que não. Disse ainda que morava com um padrasto. Algo tinha me chamado atenção. Em seu pescoço haviam marcas que ela tentava esconder com o cabelo. Perguntei o que era e ela teve a triste idéia de mentir, dizendo que ela tinha caído de bicicleta. Mas logo percebi que não era verdade. Falei com a mãe dela, parecia ter apanhado, sua mãe nos confidenciou que seu marido tinha batido na criança porque ele estava bêbado. Lembrei do seu olhar de socorro da noite passada.
No mesmo momento, direcionei o carro para ir a polícia, ela disse que tinha acabado de ir quando chegou em minha casa. Ela não tinha emprego, e por isso não se separava dele.
As levei para a minha casa. Cuidamos e acolhemos elas.
Hoje, depois de três anos, Annie está crescida e se recupera psicologicamente, ela e sua mãe Betânia moram em minha casa comigo e com a minha esposa. Estamos construindo sua casa. Ela está trabalhando, Annie estudando e todos nós felizes, nos tornamos uma família.
Olho para o céu, o sol está mais uma vez dizendo o seu adeus. Lembrei de um ditado que diz que o sol brilha para todos. Percebo que apesar de brilhar, uma hora ele se põe e diz adeus, mas graças a Deus que mais um dia começa e ele mais uma vez traz o seu lindo raio de luz.

"O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã." Sl 30:5.

Bárbara Schwartz Vitório...